A nossa civilização passa por uma fase muito difícil. A maior parte das
pessoas já se desencantou com as religiões, com os intermediários que
supostamente sabem tudo e que, ao não olhar para cada pessoa
individualmente, massificam. A era de Aquário, esta nova era que está a
aproximar-se, é a era que nos ajuda a vibrar por "somos todos
diferentes, somos todos especiais", contrariamente à era passada, de
Peixes, em que a vibração era sustentada para que cada indivíduo fizesse
parte das massas. As pessoas hoje em dia cada vez mais querem sentir-se
especiais, sabem que não são iguais aos outros e não querem um
tratamento espiritual massificado. Por isso, quando entendem a sua
singularidade e percebem que vão ter que parar de fazer o que todos
fazem, pensar como todos pensam, e ir atrás da sua individualidade,
começam a interiorizar. Só que quando tentam entrar dentro de si
próprias, fechar os olhos para sentir a sua energia - espanto! - lá
dentro é escuro, triste e pesado. Há inclusivamente pessoas que fecham
os olhos e se sentem mal, sentem um peso, sentem um breu, sentem um
frio, e isso não é mais do que memória de Vidas Passadas. Memórias de lá
de trás, onde as coisas não correram muito bem. Porque na realidade
quando encarnamos, trazemos essas memórias todas.
Se eu numa vida morri numa fogueira, queimada, com uma raiva tremenda e
uma grande sensação de injustiça, quando eu nascer vou nascer com
revolta e com uma sensação horrível de injustiça. Quando fechar os olhos
para meditar, o que vai acontecer? Vou encontrar o quê, quando tentar
aceder à emoção que mora no meu peito? Agora, imagine o acúmulo de
memória de várias, várias, várias, muitas vidas? Como não limpamos,
dentro de nós fica tudo cada vez mais pesado, escuro e desagradável. E a
maior parte das pessoas, quando sente o peso, o que faz?
Em vez de entender que precisa de limpar...
Em vez de compreender que o que ali está é a sua própria energia, o
acúmulo da vibração das suas próprias escolhas, e que é preciso encarar e
aprender com os erros... e limpar...
Em vez de ativar, deixar vir, abrir o alçapão da memória para que as coisas venham... para limpar...
Não.
As pessoas vão para fora delas próprias. E permanecem fora.
E o que quer dizer ter o foco fora? Em vez de a pessoa encontrar a sua
essência para poder ser quem é, a pessoa acaba por agir e pensar em
relação ao que os outros esperam dela. Até mesmo desenvolver gostos
próprios, por exemplo, fazer o que os outros fazem, o que os outros
acham bem.
E o facto de esta nossa sociedade estar cada vez mais globalizada faz
com que não haja muita escolha, uma pessoa acaba mesmo por fazer o que
todos os outros fazem, e lá se vai a sua singularidade, a sua unicidade.
Imagine um local onde toda a gente vai. Está cheio de gente. Todos
escolhem ir àquele sítio naquele dia. As pessoas não fazem coisas
diferentes. Cada vez mais as pessoas fazem as mesmas coisas. Para não
terem que pensar muito. Para se integrarem.
E consoante não vão fazendo coisas novas, diferentes, também não vai
havendo coisas diferentes para fazer. Então, por exemplo, uma pessoa
está sozinha, e em vez de aproveitar essa noite para meditar, para estar
consigo, ler um livro, ver um filme, pensar na vida, fazer os seus
lutos talvez, fazer alguma Meditação emocional para poder aceder às suas
dores e limpar, não, liga para os amigos e vai ao cinema. Ou seja, as
pessoas que não conseguem ficar sozinhas nem sequer conseguem iniciar os
seus processos evolutivos.
E quanto mais o tempo vai passando com este foco no outro, mais vazia
vai ficando a sua energia. E consoante a energia vai ficando vazia,
também a pessoa vai começando a não querer estar consigo própria... A
pessoa depende tanto dos outros que não otimiza o seu universo. Chega
uma altura que já nem sequer sabe do que é que gosta. É um ciclo
vicioso, porque quanto menos ela sabe quem é, mais quer a presença dos
outros. E quanto mais quer a presença dos outros, menos fica em contacto
com quem é.
Existe uma teoria que diz que a cada hora que passamos com os outros
devíamos passar duas horas connosco. Pode ser até um exagero, mas
imaginando o oposto, a cada duas horas com os outros, passávamos uma
hora connosco? Podia ser a solução.
Quando a pessoa insiste em focar no outro, o que é que vai acontecer? A
vida vai começar a trazer circunstâncias para obrigar a pessoa a ficar
sozinha. Se ela não entender o propósito, se não entender esta teoria -
se não entender que quando a vida nos pede para ficarmos sozinhos é
mesmo para ficarmos sozinhos -, ela vai começar desesperadamente a
procurar os outros, desesperadamente a querer estar com os outros, e
deixa de fazer o seu processo de individualização energética.
Alexandra Solnado
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